O ligamento cruzado anterior (LCA) é essencial para adequada função e estabilidade do joelho. Ele é composto de duas bandas, a anteromedial e a posterolateral, que o tornam o principal restritor da translação anterior da tíbia em relação ao fêmur, e importante coadjuvante na estabilização no plano transverso (rotacional) e frontal (varo e valgo).
As lesões do LCA correspondem entre 40 e 50% de todas as lesões ligamentares do joelho. As causas mais comuns resultam de atividades esportivas, dentre elas, o futebol, o esqui e o basquete. É mais frequente em jovens e mulheres. A maioria das lesões (aproximadamente 80%) ocorre por um mecanismo de lesão sem contato (sozinho), onde geralmente ocorre uma rotação do tronco enquanto o pé encontra-se fixo ao solo, causando uma “torção” do joelho.
O diagnóstico é feito inicialmente pela história do paciente, onde relatos de um estalido seguido de edema e dor são os mais comuns. No exame físico, que muitas vezes no quadro inicial com exacerbada inflamação pode não ser esclarecedor, encontra-se uma instabilidade anterior do joelho. Os exames complementares, dentre eles, as radiografias e a ressonância magnética, auxiliam na identificação da lesão do LCA, assim como de outras lesões associadas que devem ser tratadas conjuntamente. O diagnóstico deve contemplar a gravidade da lesão (total ou parcial), assim como a presença de lesões associadas (lesões de menisco, cartilagem e outros ligamentos).
Para o tratamento, as características individuais do paciente, tais como idade, profissão, nível de atividade física, dentre outras características e necessidades pessoais, devem ser consideradas. Inicialmente, analgésicos e anti-inflamatórios são prescritos, assim como a fisioterapia é recomendada. Na fisioterapia, modalidades terapêuticas para o controle da dor e edema, tais como crioterapia, compressão local e elevação, assim como instruções para evitar descarga de peso no membro inferior afetado por meio do uso de muletas são realizadas.
A grande preocupação acerca do processo de reabilitação é que ao final da fase aguda (período de três à seis semanas após a lesão) os sintomas no joelho, tais como dor e inflamação, praticamente desaparecem. Por isso, o paciente pode ter a impressão que não é necessário avançar com o tratamento. Porém, tal interrupção, pode acarretar, a médio e longo prazo, lesões e deformidades progressivas e promover desgaste precoce da articulação.
Quando se opta pelo tratamento cirúrgico, este requer um curto período de internação hospitalar (até 24h). Atualmente, o procedimento padrão para a reconstrução do LCA preconizado pela literatura é a cirurgia artroscópica e posicionamento anatômico do ligamento (posição exata do ligamento cruzado existente previamente). Há diferentes tipos de enxerto e fixação, ficando ao critério do médico a escolha. Tão importante quanto a cirurgia é o correto e completo tratamento fisioterapêutico.
O retorno às atividades habituais e aos esportes é definido conforme os critérios de alta. Utiliza-se os da Academia Americana, composto por testes de saltos, exame isocinético, questionários específicos e tempo de integralização do enxerto. Quando todas as etapas do tratamento são realizadas corretamente, o indivíduo é capaz de retornar ao mesmo nível funcional, ou até melhor, que os apresentados previamente a lesão.